Tinha o cérebro a alertar-me para um eventual uso abusivo desta expressão “ em nome próprio”. Fiz uma busca na net e conclui que a minha memória, que me deixa muitas, muitas vezes, ficar mal, me apontava na direcção do disco de João Gil. Entretanto descobri que o que há por aí de actos “em nome próprio” é, como tudo o é na blogoesfera, incomensurável. Começando num blog abandonado desde 2006, passando por infindáveis actos de revolta de músicos contra discográficas ou contra companheiros de bandas, até mesmo
um filme, imagine-se, que percorre o mundo.
Mas isto é bom porque quer dizer que o que está banalizado é de todos e, por conseguinte, é meu também para usar indevidamente. Falo hoje… escrevo hoje, em nome próprio.
Tenho andado sem tempo para nada, queria ter tempo para ler, para googlar, devia fazer umas visitinhas de médico e devia tirar um tempo para pôr a papelada em dia. Queria ir ao cinema, queria mesmo ir ao cinema. Mas não tenho conseguido. E tenho chegado à conclusão que tenho preenchido o meu tempo com coisas que não me têm dado o prazer que esperava.
Entre as coisas que me têm dado prazer estão os livros. Ando a ler três ou dois livros. Não reconhecem a forma de quantificação? Utilizam-na as crianças pequeninas. Como é possível que não se saiba quantos livros se anda a ler? Eu não sei, e se enlouqueço é outra a forma da minha insanidade.
Leio “As rosas de Atacama” de Luis Sepúlveda, gosto deste livro. Nunca tinha lido nenhuma outra obra deste escritor e esta parece-me um excelente primeiro contacto – não há impressão como a primeira. O livro soma curtas histórias de gente comum que o autor coleccionou ao longo dos anos; gentes anónimas e únicas que construiram países e apontaram caminhos a outras gentes também estas singulares.
Também ando a ler “Nos passos de Magalhães” de Gonçalo Cadilhe, outro autor para mim desconhecido. Não é um livro, é um jornal, um relato. Relata a história de Magalhães e a do nosso país de uma forma que, ainda, não se ensina nas escolas, ou talvez se ensine, nas universitárias, aos alunos do curso de história. Que não se ofenda o autor mas reafirmo que não é um livro, não na sua concepção tradicional, imagino-o muito mais como a reinvenção das crónicas ao estilo de Marco Polo – aí está um autor a pesquisar. Mas esta cronologia de hoje que segue a vida itinerante do português tem o mérito de nos fazer reflectir – os livros têm destas coisas – sobre a ironia das incompatibilidades humanas que mudam as vidas dos incompatibilizados, como foram D. Manuel e Fernão de Magalhães e dos outros, mais uma vez, anónimos e também alheios.
Leio ainda uma agenda cultural com notas interessantes, um livro “sem título e bastante breve e outros poemas” de Al Berto, a “Breve antologia da poesia portuguesa” que a fnac editou para o dia da poesia, e mais um … agora sim, atraiçoa-me a memória… cujo nome não me lembro e que como os três anteriores não posso considerar como um livro que ando a ler dada a natureza demasiado esporádica da leitura. Talvez não sejam três ou dois mas antes cinco ou dois - asseguro-vos que esta medição existe porque também já tomei conhecimento dela.
Estes dias têm passado pela intensificação da vivência com alguns amigos e pela redescoberta do prazer dos diálogos com “desconhecidos”. Dou-me a pessoas tão diferentes… pessoas que me ensinam que nas últimas sextas de cada mês o Casino Estoril tem noites com DJ’s convidados; pessoas que me ensinam que na última sexta-feira de cada mês o museu dos coches tem recitais e momentos culturais de entrada livre em que nos servem café e chocolates; pessoas incapazes de partilhar livros e outros incapazes de não os passar ao próximo; pessoas que dão formação sobre bonsais com objectivos beneficentes e outros que gastam dinheiro a frequentar formações de sushi; pessoas que vêem sempre, mas sempre, o que os outros têm de mais lindo e outras feitas cínicas, pela vida que tiveram ou sem motivo aparente.
Tiro prazer de um bom diálogo, da leitura e da escrita. Na escrita ensaio personagens retiradas de figurinhas ou de figurões; reflicto emoções perdidas; faço uso indevido das vidas dos outros mas esforço-me por respeitar intimidades - ao ponto de me encontrarem encriptada; busco silêncios gritantes e rumo a mim própria. Mas sobretudo ensaio … ensaio textos e palavras e faço-o em nome próprio; ensaio imagens e (com excepção da primeira foto que postei) faço-o em nome próprio. E rumo a mim própria e descubro que as pessoas não lêem as frases como eu as escrevo e isso faz-me mudar, mas só um pouco, a minha maneira de SER (dizer, ler e escrever).
Ensaio e aprendo.