07/03/2009

Achados ou perdidos

As páginas que agora lia começaram por a desanimar. Quando alguém se rende tão fortemente a um livro como ela se entregou àquele que agora punha de novo na estante, a obra que lhe sucede é castrada sem piedade.

Sofia acredita que os livros são todos secretos e o seu segredo está na força que têm para projectar os pensamentos de quem os lê para momentos completos, plenos de fantasias e ricos em sensações; mas acredita mais, acredita que os livros mesmo bons nos podem revelar segredos que guardamos de nós próprios, esses segredos, não fora o dom de quem os escreve, e nunca os reconheceríamos.

A sua convicção não se prende com o facto de sermos todos pessoas desinformadas ou sem auto-consciência mas antes com a parafernália de futuros possíveis que cada um encerra dentro de si e que se multiplicam, ou dividem, quando escolhemos interagir com outros.

Aquele livro que tinha entre mãos parecia só mais um, sem nada para ensinar, com personagens encantadas em terras de magia e com futuros fatídicos, e não prendia a leitura. Parecia construído em versão acelarada. Agora o passado, numa analepese introduzida antes de tempo, e depois o passado mais recente, descrito apressadamente, de facto, tão apressadamente que em duas ou três páginas o herói da narrativa era já um jovem adulto envolvido em encantamentos descritos em surdina. E já está! O presente da narrativa (a)presentado e servido em regime de leitura leve?!

O que a impeliu a continuar a leitura que levava de forma arrastada foi a dificuldade que ainda guarda em admitir que desistência também é desinteresse, e não tão só incapacidade.

Foi por essa insegurança imatura que àquele livro, bom ou mau ou, eventualmente, até excepcional, foi dado um compasso de espera.

Não se recordava de quem lho tinha oferecido, mas foi o facto de ter sido uma oferta que a levou a retirá-lo do lugar onde esperava a sua vez. Só sabia que alguém que a queria bem gostaria que o lêsse. E então leu-o!

Mas não estava preparada. Ao que parece até os livros menos bons têm histórias nossas para contar.

A páginas tantas encontrou descrito um sentimento que pareceu reconhecer. E se durante tanto tempo ela não soubesse toda a verdade? Era porque não existia, ou porque era impensável que pudesse existir?

1 comentário:

Anónimo disse...

Se soube-se que "arrumar móveis" impirava literáriarmente já me tinha posto a arrumar e a desarrumar o estabelecimento mais vezes!A Nostálgia passou por aí ontem?!

Guess Who

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