23/03/2009

Bichinho de Conta


Uma ilustração de Rita Antunes para o livro "Que bicho te mordeu?" de Maria João Lopo de Carvalho.

Bichinho de Conta
Conta-me o que comes
Oferece-me frutas frescas
Com que matas as fomes.

Bichinho de Conta
Conta-me onde vais
Conta-me estórias de sítios
E de grandes carnavais.

Bichinho de Conta
Espera por mim no jardim
Vamos juntos em viagem
Buscando o cheiro do jasmim.

O futebol não é isto.

Não podia deixar de publicar, para a eternidade ou imortalidade, ou outra (calami)dade qualquer.

Paulo Bento - no directo da SportTV:

" Apesar de serem menos (os árbitros) às vezes parecem mais."

" Um fenómeno."

" A bandeira parece ter uma mola..."

A Desconfiança

É Bichinho venenoso
Crescendo dissimulado,
Deixa pedras no caminho
Põe-te a pau ou és caçado.

Alimenta-se do vazio,
de qualquer desentendimento,
Cresce gordo com soberba
Destruindo o sentimento.

Dão-lhe pernas para andar
e é vê-lo desenfreado
devorando, a belo prazer,
Tudo o resto semeado.

E se o facto lhe faz jus,
Temos causa perdida,
porque não mais recuará,
em toda a tua vida.

Para que tal não te suceda
previne-te, pois então,
destruindo-o à nascença.
Tens poder de comunicação.

O Desespero

O desespero lê-se nos olhos.

Pode o amor verdadeiro provar-se num beijo,
o desespero lê-se nos olhos.

Não nas roupas andrajosas,
que são também relaxamento;
Não nas mãos tremulas,
manifesto intenso de um rol de sentimentos;
Nem no coração apertado,
porque esse não se vê.

Vê-se nos olhos.
Choram ou secam.
Tristes que estão e em plena apreensão.
Contam vidas inteiras ou abusos repetidos;
Contam a perda de alguém ou a saudade prolongada.

Contam-me os teus …e os meus.

E então? Nada a dizer!

E então? Nada a dizer!

Atiro para o chão a toalha com que limpava o rosto, dia após dia, ora suor ora lágrimas, lutando na esperança de um pequeno retorno, uma alegria por uma pequena consecução.

Não quero mais esperanças vãs. Tu não queres! e eu sozinha não consigo. Nem tão pouco (quando) munida de soldados incansáveis. Rendo-me! Deposito as minhas armas a teus pés, usa-as tu, se lhe achares proveito.

Arrependo-me já por um sofrimento maior que pressinto, mas não posso dar mais de mim. Dei-te voz, dei-te o motivo, a razão e a paixão. Mostrei-te o futuro e disseste: não!!

Cingida que estou ao teu esquecimento, anuncio com mágoa: sou, por decreto teu, igual aos demais.

Oh! meu motivo maior, feito causa de perdição. Peço desculpa! …ou talvez não.

22/03/2009

21 de Março dia Mundial da Poesia


Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Interrogação - Camilo Pessanha

21/03/2009

Lisboa está viva!



Lisboa está viva!

Vive na noite do Bairro,
no zumbido das Docas,
nos segredos das vielas do Chiado.

Vive nos cafés das esquinas,
nas casas de pasto,
nas cozinhas novas.

Vive nas esperanças do Conservatório,
nos transeuntes das avenidas grandes,
no coração dos lisboetas.

Lisboa Vive de noite onde as pessoas habitam de dia!

19/03/2009

“Moche ao pai!”


Caminha nas pequenas pegadas deixadas pelo petiz que corre à sua frente perseguindo a espuma da água do mar. O sol está quente mas a areia está quase despovoada, as festas no centro da vila afastaram os veraneantes da praia. Observa aquela criança, forte em promessas, que sorri erguendo uma estrela-do-mar acima da sua cabeça e, de cabelos revoltos, grita: - Papá! É para ti! Feliz dia, Papá! A oferenda que lhe dava e que sempre guardaria era um sorriso rasgado pela alegria na partilha daquela conquista.

09/03/2009

Porque sou Mulher

Na sexta entrei no trabalho, almocei a correr e saí, ainda assim, não foi um dia como os outros, nem uma noite como as outras. Houve temas velhos em contextos novos e queixumes novos em regaços familiares. No final tinha mais razão do que supunha…

Amo porque sou Mulher,
Confundo porque sou Mulher,
Penso no que dizes porque sou Mulher,
Carrego o peso que me entregaste porque sou Mulher,
Fico a remoer nas tuas palavras porque as sinto como Mulher,
Sinto-me magoada, e vejo-te egoísta porque, como mulher que sou, pensei em ti;
Reajo com paixão porque sou Mulher,
Gosto de saber de ti porque sou Mulher,
Acolho as tuas confidências porque sou Mulher,
Acredito no que dizes porque, como mulher que sou, afirmo com a mesma convicção com que sinto;
Por isso,
Vou gritar, reclamar, espernear, queixar-me e lutar;
Vou tentar, voltar a tentar e tentar de novo;
Vou procurar saber;
Vou escolher e assumir;
Vou enfrentar e, de peito cheio e orgulho preenchido, dizer-te
FAÇO-O PORQUE SOU MULHER
Porque sou como me queres,
Sabes que sou MULHER e, como mulher que sou, assim … não cedo.

08/03/2009

Chicken Pie à escocesa

Limpe e lave o frango, corte-o em pedaços rejeitando os ossos principais, e depois tempere o frango com muito pouco sal, pimenta e sumo de limão.

Deite num tacho o óleo, metade da margarina, a cebola picada e as cenouras descascadas e cortadas à rodelas; leve ao lume e vá mexendo; quando começar a alourar , junte-lhe o frango e continue a deixar refogar em seco até o frango começar a alourar; então junte-lhe a farinha bem espalhada e remexida por todo o frango; mexa sobre o lume e depois junte-lhe o copo de vinho branco e o cubo de caldo, junte ainda meio copo de água, devagarinho e mexendo.

Enquanto isto corte os cogumelos em lâminas, deite a outra metade da margarina num tachinho e leve ao lume; junte-lhe os cogumelos e vá mexendo uma vez por outra.

Corte o fiambre em quadrados.

Entretanto, amasse a farinha com a margarina e junte-lhe quatro colheres de água e uma pitada de sal; amasse bem até que fique uma massa homogénea capaz de se estender com o rolo.

Deite um frango num tabuleiro ou num tacho de barro, de tamanho adequado e que possa ir ao forno, por cima espalhe os cogumelos e o fiambre.

Com o rolo, estenda a massa polvilhando com farinha sempre que necessário para não pegar. Depois coloque-a por cima do frango de forma a cobrir completamente.

Apare-a em volta e depois aconchegue-a bem, em toda a volta, com uma faquinha faça um buraco no meio; depois pinte a massa com um ovo batido. Com as aparas da massa, faça uma tira que colocará à volta junto aos bordos e bem aconchegada. Se lhe sobrou massa faça pequenas decorações e depois volte a pintar com ovo.

Leve ao forno cerca de 25 minutos.A massa poderá variar consoante o tamanho do tacho de barro.
Bom apetite!

Ingredientes:

1 frango
1 colher de sopa de margarina
3 colheres de sopa óleo
1 cebola grande picada
2 cenouras
1 colher de sopa de farinha
1 copo de vinho branco
1 cubo de caldo de galinha
100 grs de fiambre (com uma grossura de 2 mm ou mais)
200 grs de cogumelos
meio limão
sal e pimenta a gosto
1 ovo

Para a massa:

150 grs de farinha
75 grs de margarina
1 pitada de sal
4 colheres de sopa de água

07/03/2009

Achados ou perdidos

As páginas que agora lia começaram por a desanimar. Quando alguém se rende tão fortemente a um livro como ela se entregou àquele que agora punha de novo na estante, a obra que lhe sucede é castrada sem piedade.

Sofia acredita que os livros são todos secretos e o seu segredo está na força que têm para projectar os pensamentos de quem os lê para momentos completos, plenos de fantasias e ricos em sensações; mas acredita mais, acredita que os livros mesmo bons nos podem revelar segredos que guardamos de nós próprios, esses segredos, não fora o dom de quem os escreve, e nunca os reconheceríamos.

A sua convicção não se prende com o facto de sermos todos pessoas desinformadas ou sem auto-consciência mas antes com a parafernália de futuros possíveis que cada um encerra dentro de si e que se multiplicam, ou dividem, quando escolhemos interagir com outros.

Aquele livro que tinha entre mãos parecia só mais um, sem nada para ensinar, com personagens encantadas em terras de magia e com futuros fatídicos, e não prendia a leitura. Parecia construído em versão acelarada. Agora o passado, numa analepese introduzida antes de tempo, e depois o passado mais recente, descrito apressadamente, de facto, tão apressadamente que em duas ou três páginas o herói da narrativa era já um jovem adulto envolvido em encantamentos descritos em surdina. E já está! O presente da narrativa (a)presentado e servido em regime de leitura leve?!

O que a impeliu a continuar a leitura que levava de forma arrastada foi a dificuldade que ainda guarda em admitir que desistência também é desinteresse, e não tão só incapacidade.

Foi por essa insegurança imatura que àquele livro, bom ou mau ou, eventualmente, até excepcional, foi dado um compasso de espera.

Não se recordava de quem lho tinha oferecido, mas foi o facto de ter sido uma oferta que a levou a retirá-lo do lugar onde esperava a sua vez. Só sabia que alguém que a queria bem gostaria que o lêsse. E então leu-o!

Mas não estava preparada. Ao que parece até os livros menos bons têm histórias nossas para contar.

A páginas tantas encontrou descrito um sentimento que pareceu reconhecer. E se durante tanto tempo ela não soubesse toda a verdade? Era porque não existia, ou porque era impensável que pudesse existir?

Alguém em mente

O Afonso é o tipo de indivíduo que não consegue estar de mente desocupada, dir-se-ia que tem uma característica marcadamente feminina, pensa demais. Por estes dias, olha de novo em redor do espaço em que circula e procura. Viu-a ontem e pareceu-lhe que ela também reparara nele, os olhares ficaram suspensos e isso tinha de significar que existia algo em que pensar. Ei-lo procurando e pensando, pensando e procurando, enquanto na sua mente trauteia “ …but I still haven´t found what i’m looking for…”mais tarde mudará de registo e acusará “ …with or without you, with or without youuu… I can´t live with or without you hum, hum”. Pouco importa. O registo será aquele que estiver adequado ao momento, mas tem de haver um. O Afonso conhece-se e sabe que é sedento por emoções, por fantasias; quando se desencanta desperta quase imediatamente para o desejo de procurar alguém que “dê luta”. Forçando vivências mas sem apressar os estádios da intimidade entrega-se ao enamoramento e vive a vida, assim, com mais intensidade, com paixão, viciado em desejo e entusiasmo.

Aos “Afonsos” que por aí andam que fiquem com a identidade salvaguardada, aos outros Afonsos, qualquer semelhança é pura ficção. Por outras palavras, a quem a carapuça servir.