28/04/2009
26/04/2009
Génios de garrafa
Deixar o (nosso) génio sair da garrafa tem um preço. Normalmente os génios vêm carregados de ironia, pelo menos na literatura e no cinema. São criaturas poderosas que mais tarde ou mais cedo desejamos ver desaparecidas. Anunciam promessas e emanam uma aura de magia que se revela depois turva e traiçoeira.
Antes de agirmos convém sabermos ao que vamos e convém saber se temos energia para esfregar a lâmpada mágica. Nem todo o vigor é bom, ser virogoso não significa necessariamente ser-se forte ou decidido, e ser-se decidido também não significa ser-se certeiro, porque depois vem a que cena toda dos desejos, 3 desejos, mas quais? Saúde, sem dúvida, família, amor, riqueza, amizades, paz, e o diabo a sete, e de repente é o diabo no corpo. E tudo porque o génio saiu da garrafa.
E depois tudo depende da garrafa de onde veio o génio...
Hallelujah - outras paixões
Já fora do contexto pascal, venho partilhar outros hallelujahs cujos conteúdos e mensagens nada têm em comum com o anterior, excluindo talvez a paixão da mensagem que é cantada, a paixão sentida por quem as canta e por quem as ouve.
Aos apaixonados, ou tão só aos mais atentos, bom proveito.
22/04/2009
Extra! Extra!
Vigia
Na torre contorcem-se as peças metálicas porque é um dia de vento. Maus dias, os dias de vento.
Aqui não são bem-vindos os ventos fortes que atiçam incêndios ou reacendem braseiros. Aqui espera-se que as notícias não cheguem, que o telefone não toque. A única voz que se quer escutar é a da confirmação da rendição, passadas que estejam as 8 horas do turno.
- Nem fumo nem fogo, não hoje, não no meu turno, mas se vier que não me deixe enganar - pensa o noviço. O seu parceiro de vigia anda nisto há meia vida e sabe bem o que é ser noviço em torre de vigia de incêndios, também já foi enganado pelas luzes que ponteiam as matas e pelos ventos que levantam poeiras e até pelos fumos dos churrascos dos leitões, quando vigiava na Mealhada.
Quando chegou a esta vida veio pela necessidade, para ter um parco mas seguro rendimento, agora o apelo que sente vem do amor pela mata, pelo seu concelho, pelos outros mais de seiscentos voluntários e pelos homens que, nos quartéis dia e noite, se endurecem para fazer frente aos infernos na terra; fá-lo pelo amor à vida e é respeitado por isso.
Aqui os mais velhos são os mais válidos: são mais atentos, mais certeiros; são mais conhecedores dos segredos do fumo, das suas cores e movimentos e do que isso significa. Eles lêem o fumo, lêem as folhas da floresta feitas em fumo. São eles os primeiros a dizer: - Liga à próxima torre, vamos triangular! São eles que, amassados pelo cansaço, se deixam ficar até ver o fim da queima.
Nesta atalaia as janelas de vidro são móveis em todo o perímetro e o conforto existe mas não está nos livros, nem nas televisões, nem nos computadores portáveis, que não entram nesta casa, está no isolamento térmico, e na segurança da torre e na porta contra-intrusão. É um conforto para que os olhos – olhos enormes e atentos - possam vigiar.
11/04/2009
08/04/2009
Sentidos em alerta ou alerta dos sentidos?
e se avance com cautela?
Que se ergam abrigos para proteger crias;
Que se levantem muros contra rivais;
Que se construam armadilhas em caminhos traiçoeiros;
Que se cuidem as feridas com unguentos preciosos;
Que se arrastem socorros prevenindo aflições.
Que isso nos impeça e nos condicione?
Que não se provem os frutos porque as suas cores são muito fortes ?
Sorvam-se os néctares e degustem-se pitéus;
Dê-se expressão às ideias;
Escrevam-se as palavras;
Esgrimam-se argumentos com opositores eloquentes;
Soltem-se os instintos;
Despejem-se sentimentos e assumam-se as paixões;
Olhem-se os olhos e vejam-se os âmagos.
07/04/2009
O Gui chora de novo
Escrevo em nome próprio
Tenho andado sem tempo para nada, queria ter tempo para ler, para googlar, devia fazer umas visitinhas de médico e devia tirar um tempo para pôr a papelada em dia. Queria ir ao cinema, queria mesmo ir ao cinema. Mas não tenho conseguido. E tenho chegado à conclusão que tenho preenchido o meu tempo com coisas que não me têm dado o prazer que esperava.
Leio “As rosas de Atacama” de Luis Sepúlveda, gosto deste livro. Nunca tinha lido nenhuma outra obra deste escritor e esta parece-me um excelente primeiro contacto – não há impressão como a primeira. O livro soma curtas histórias de gente comum que o autor coleccionou ao longo dos anos; gentes anónimas e únicas que construiram países e apontaram caminhos a outras gentes também estas singulares.
Também ando a ler “Nos passos de Magalhães” de Gonçalo Cadilhe, outro autor para mim desconhecido. Não é um livro, é um jornal, um relato. Relata a história de Magalhães e a do nosso país de uma forma que, ainda, não se ensina nas escolas, ou talvez se ensine, nas universitárias, aos alunos do curso de história. Que não se ofenda o autor mas reafirmo que não é um livro, não na sua concepção tradicional, imagino-o muito mais como a reinvenção das crónicas ao estilo de Marco Polo – aí está um autor a pesquisar. Mas esta cronologia de hoje que segue a vida itinerante do português tem o mérito de nos fazer reflectir – os livros têm destas coisas – sobre a ironia das incompatibilidades humanas que mudam as vidas dos incompatibilizados, como foram D. Manuel e Fernão de Magalhães e dos outros, mais uma vez, anónimos e também alheios.
Leio ainda uma agenda cultural com notas interessantes, um livro “sem título e bastante breve e outros poemas” de Al Berto, a “Breve antologia da poesia portuguesa” que a fnac editou para o dia da poesia, e mais um … agora sim, atraiçoa-me a memória… cujo nome não me lembro e que como os três anteriores não posso considerar como um livro que ando a ler dada a natureza demasiado esporádica da leitura. Talvez não sejam três ou dois mas antes cinco ou dois - asseguro-vos que esta medição existe porque também já tomei conhecimento dela.
Estes dias têm passado pela intensificação da vivência com alguns amigos e pela redescoberta do prazer dos diálogos com “desconhecidos”. Dou-me a pessoas tão diferentes… pessoas que me ensinam que nas últimas sextas de cada mês o Casino Estoril tem noites com DJ’s convidados; pessoas que me ensinam que na última sexta-feira de cada mês o museu dos coches tem recitais e momentos culturais de entrada livre em que nos servem café e chocolates; pessoas incapazes de partilhar livros e outros incapazes de não os passar ao próximo; pessoas que dão formação sobre bonsais com objectivos beneficentes e outros que gastam dinheiro a frequentar formações de sushi; pessoas que vêem sempre, mas sempre, o que os outros têm de mais lindo e outras feitas cínicas, pela vida que tiveram ou sem motivo aparente.
Tiro prazer de um bom diálogo, da leitura e da escrita. Na escrita ensaio personagens retiradas de figurinhas ou de figurões; reflicto emoções perdidas; faço uso indevido das vidas dos outros mas esforço-me por respeitar intimidades - ao ponto de me encontrarem encriptada; busco silêncios gritantes e rumo a mim própria. Mas sobretudo ensaio … ensaio textos e palavras e faço-o em nome próprio; ensaio imagens e (com excepção da primeira foto que postei) faço-o em nome próprio. E rumo a mim própria e descubro que as pessoas não lêem as frases como eu as escrevo e isso faz-me mudar, mas só um pouco, a minha maneira de SER (dizer, ler e escrever).
Ensaio e aprendo.